28/12/2020

[Resenha] Vox - Christina Dalcher

 



Sinopse: Uma distopia atual, próxima dos dias de hoje, sobre empoderamento e luta feminina.

O SILÊNCIO PODE SER ENSURDECEDOR #100PALAVRAS

O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade. Esse é só o começo... Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir...mas não é o fim. Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.

 

Autora: Christina Dalcher

Editora: Arqueiro

Páginas: 320

Classificação: 3/5


Olá, povo lindo!

 

Hoje é o dia da última resenha do ano e assim como 2020 de um modo geral o livro foi uma decepção, começou promissor, foi descendo a ladeira, deu uma melhorada e putz... o final foi sem salvação.

 

Eu ponderei muito se valia a pena trazer essa resenha para vocês, pois não será 100% positiva, mas o livro trata de uma questão de extrema importância, então decidi que era o melhor a ser feito. Algumas resenhas que eu li tratam a leitura como distopia, na minha concepção estamos vivendo em meio disso desde 2014 (aqui no Brasil) e parece que é uma onda que anda atingindo muitos lugares. Desde então nós mulheres estamos lutando por voz, lutando por justiça, lutando por direitos e o que eu ando reparando é que esse barulho anda incomodando, então Vox é uma leitura necessária para lembrar a parcela isenta que quando se cala uma, se cala todas.


“O Cinturão da Bíblia havia se expandido, espalhado e crescido até se transformar numa Dama de Ferro, numa câmara de tortura.”

 

A protagonista Jean faz parte exatamente dessa parcela isenta, nunca imaginou que o governo poderia controlar a vida das mulheres de forma tão brutal. Tudo começa com a ideia de pureza, família tradicional, ensinam crianças nas escolas que existe um lugar no mundo para cada gênero e isso deve ser respeitado, blábláblá. Mesmo as lutas feministas não são suficientes a fim de parar essa empreitada conservadora autoritarista, mas assim como muitas, Jean não leva fé no que está acontecendo por trás dos panos até ser tarde de mais.

 

“Os monstros não nascem assim, nunca. 

Eles são feitos, pedaço por pedaço”


Jean me irritou por ser uma mulher extremamente inteligente, mas que só conseguia olhar para própria bolha, não estamos falando de uma protagonista satisfeita com a situação, mas com uma conformada e ressentida que outros não tenham lutado por ela. Tudo muda quando ela descobre umas coisas e decide que é hora de reagir, mas muito de suas atitudes são pensadas nela, com base nas questões e problemas dela e isso me levou ao limite, mesmo que eu tenha total consciência que o egoísmo é normal, que lutamos primeiro por nós e depois pelos outros,  o problema me pareceu tão real e atual que esse egoísmo claro me incomodou e me fez sentir abandonada.

 

“Pense no que precisa fazer para continuar livre.”


Muito do livro acontece nas reflexões sobre o passado da Jean, mostrando os pontos onde ela “pecou”, as pequenas brechas que não enxergou claramente, onde o outro lado ganha força e nós deixamos passar por “não ser nada” ou “ninguém vai apoiar isso”. A narrativa deixa claro que pequenas atitudes fazem a diferença e que a hora é agora, se não lutarmos hoje, talvez precisaremos lutar o dobro amanhã, acho que perder o direito de expressão foi uma tacada forte da autora, e não apenas a voz, mas o direito de sermos independentes, de sermos únicos. Esse livro me fez enxergar o quão gracioso é o direito de comunicação, uma coisa tão comum hoje em dia, mas de total importância e se retirada de total isolamento.

 

A construção da história me pareceu bem fraca, a protagonista não tem uma grande expressão ou evolução durante a narrativa, assim como os demais personagens, a história oscila entre média e ruim todo o tempo e tirando o fator angustiante da situação e seu quadro de horror não é uma história instigante. A leitura poderia e tinha tudo para ser maçante, mas por milagre fluiu muito bem e eu consegui terminar bem rapidinho. As reviravoltas foram simples, algumas eu julgaria como desesperadas e o final é desastroso, feito de qualquer maneira, sem maiores explicações ou soluções concretas, a ideia é ótima, mas a execução é falha e não me agradou a ponto de indicar a leitura.

 

"Ultimamente tudo parece ser uma escolha entre 

o pior e o menos pior."


Eu tinha grandes expectativas e mesmo com os inúmeros “avisos” eu não levei fé que algo que tem uma premissa tão boa poderia ser bem ruim, acredito que podemos encontrar leituras com temas similares e mesma importância, então eu deixo com vocês duas dicas. Primeiro, não deixem calarem sua voz, porém quando for usa-la seja empática. Segundo, busque outras leituras com temas semelhantes, para mulheres é algo que choca e assusta, mas é bom enxergamos o que pode acontecer, por mais impossível que pareça hoje. Eu vou ficando por aqui, deixem sugestões de leituras nos comentários e obrigada pela visita.

 

Um beijo e até a próxima!


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