04/02/2018

[Resenha] O ódio que você semeia - Angie Thomas




Sinopse: Uma história juvenil repleta de choques de realidade. Um livro necessário em tempos tão cruéis e extremos.

Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial.
Não faça movimentos bruscos. Deixe sempre as mãos à mostra. Só fale quando te perguntarem algo.Seja obediente. Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto. Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos - no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início. Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa.

AutoraAngie Thomas
Editora: Galera Record
Páginas: 378
Classificação: 5/5 - Favorito


Esse livro foi uma surpresa maravilhosa de 2018, já comecei o ano com pé direito, pois “O ódio que você semeia” é uma leitura maravilhosa que com toda a certeza entrou para meus favoritos da vida.

Confesso que não estava muito animada para realizar essa leitura, comecei meio relutante, mas logo nas primeiras páginas fui arrebatada para essa história magnifica, logo no inicio da narrativa eu já senti o impacto emocional da história, eu não sou de chorar (sou uma pedra de gelo), mas me vi chorando antes mesmo das 100 páginas serem atingidas, imaginar a dor da Starr me deixou bem abalada, tentei me colocar no lugar dela e foi tão triste que eu recuei por algumas vezes, não conseguia ler por muito tempo, sempre precisava dar uma parada para me recompor, não sei se é certo dizer que essa é uma história bonita, pois não é, mas posso afirmar que é uma história que passa muita verdade, e que agrega de mais na vida da gente e merece ser lida, relida e indicada aos quatro ventos.

Esse é o livro de estreia da autora e posso afirmar com todas as letras que ela fez um trabalho maravilhoso, a ambientação, a narrativa em primeira pessoa pelos olhos da Starr, os diálogos, os assuntos bem levantados e executados e a conclusão impressionante de uma história que poderia ser baseada em fatos reais. É perceptível que a autora tem vivencia do que está falando, não pesquisei a vida dela, mas é tudo tão bem construído que é possível para o leitor sentir cheiros, sabores, visualizar cores e formas, escutar sons e ser embalado pelas canções de referencia que tocam durante a narrativa. Não é possível que uma autora possa passar tanta verdade se essa verdade não fizer parte do que ela é, presenciou ou até mesmo sofreu, como eu já disse não sei da vida dela, mas é incrível sua forma de descrever a realidade e nos puxar para dentro dela.

"As despedidas doem mais, quando a outra pessoa já partiu."

A principio eu me foquei muito nos personagens em volta da protagonista, para quem não sabe a história narra a luta interna e externa da Starr, após ser testemunha do assassinato de seu melhor amigo por um policial. Eu procurei prestar bastante atenção em como as pessoas em volta dela se comportavam com o que aconteceu e graças a isso pude sentir em primeira mão todo o carinho e suporte que uma família pode oferecer, cada um com suas próprias características, mas todos juntos envolta do amor e de um mesmo ideal.  O livro é cheio de personagens impares, cada um com sua contribuição e importância para trama, mas o destaque fica para os pais da Starr, sempre dispostos a preservar a opinião dos filhos, sem deixar de cuidar da educação, acredito que seja uma balança que apenas pais podem entender e como não sou mãe só consigo ver a beleza de formar e entregar para o mundo pessoas de bem, com opinião forte e cinte de sua importância para o mundo. Os diálogos e as lições que esses pais passaram para seus filhos ao longo de todo livro me marcaram muito e eu vou aplicar e levar isso para a minha vida.

Eu comecei olhando de cima a narrativa como um todo, me conectei com os personagens, mas os problemas sociais relatados não me tocaram em um primeiro momento, até porque na minha cabeça era uma realidade dos EUA e não nossa, então não tinha necessidade de eu me preocupar com aquilo, mas em um dado momento que eu não sei dizer exatamente qual foi eu percebi o quanto sou alheia aos problemas sociais que me cercam, pois olhando de perto é a mesma coisa, a narrativa de “O Ódio que você semeia” poderia estar sendo feita em alguma favela do Rio de Janeiro, o que é relatado no livro vai além de gueto x favela, vai além de EUA x Brasil, é uma realidade de gente negra e pobre que são afogadas na desesperança, largadas as margens para sobreviver e existir e que tem sua voz pouco ouvida por pessoas que não tem a mesma realidade. Me chocou a forma como eu enxergo um “bandido” morto na TV, não vou ser hipócrita e dizer que sinto muito por ele, mas posso afirmar que vou pensar mil vezes antes de condenar alguém , julgar e dar opinião sobre a vida de alguém que eu não conheço, a mídia pode distorcer ao invés de informar e a partir dessa leitura eu vou passar a olhar como “talvez um bandido” e não mais como “ com certeza um bandido”.

" Eu perguntaria se ele gostaria de ter atirado em mim também."

Percebi com essa leitura que não sou juíza da vida de ninguém, não vivo aquilo para ter uma voz ativa, não sou ninguém no meio de tanta luta, dor e suor.  Porém Starr me ensinou uma lição valiosa, somos o que queremos ser, defendemos o que é certo para gente e precisamos fazer com que nossa voz seja ouvida. Não tomarei nunca para mim uma luta que não é minha, não tenho desejo, nem pretensão de protagonizar a luta de outros, mas posso me propor a ouvir e tentar da melhor maneira entender a revolta por trás das palavras, enxergar além de uma noticia de TV, não me calar diante de uma brincadeirinha racista que ofende e magoa mesmo que a pessoa fique quieta, principalmente não deixar que outros sofram enquanto eu fico calada e alheia.
          
“O ódio que você semeia” é um livro que levanta uma bandeira pouco explorada de forma comercial, por ser protagonizado por uma menina de 17 anos acredito que o livro atinja de maneira mais eficaz aqueles que fazem o nosso futuro, que por se tratar de uma narrativa fluida, rápida e direta, chegue com mais rapidez e seja mais bem aceita pelas pessoas do que seria um relato cru de uma realidade que não nos atinge. Eu pensei muito, questionei muito as escolhas da autora de colocar algo que levante a ideia de racismo reverso (que não existe, vale deixar claro), mas a explicação para tal intolerância de relacionamento inter-racial foi muito coerente e mesmo não sendo o foco da história teve um papel muito importante nesse livro.

" Algo pelo qual viver. Algo pelo qual morrer."

Fiquei pensando o que faz de nós iguais? E diferentes? Cheguei à conclusão que oportunidades fazem isso, somos o que somos pelas oportunidades e também pelo nosso esforço no dia-a-dia, eu espero como ser humano que possamos levar oportunidade para todos os lugares não como forma de esmola ou um “cala boca”, mas por respeito e por realmente querermos igualdade através de gêneros, raças, religiões e poder aquisitivo. Agora a pergunta que fica é: O que eu posso fazer para mudar a realidade em que vivemos? EU, vou começar com respeito e tolerância, mas espero expandir isso de alguma outra forma. E você?

Para terminar quero dizer que a Galera Record apostou nesse livro e ganhou muito com isso, não porque ele virou filme, a editora ganhou por publicar uma história que agrega na vida das pessoas, nos coloca para refletir e nos tira da nossa zona de conforto. Uma coisa é certa, eu mudei depois dessa leitura e espero que vocês tenham a oportunidade de conferir essa história e que aprendam com ela também.

Beijos e até a próxima!

Nenhum comentário:

Postar um comentário